Atendimento Integral ao Paciente

Parece algo elementar, mas não é…  O conceito de atendimento integral quebra paradigmas básicos do modo de atendimento tradicional. Neste modo, o paciente tem um problema e vai ao médico, este o examina e prescreve o tratamento que lhe parece adequado. Ocorre que atualmente, muitos pacientes vão aos médicos e não têm seus problemas resolvidos, acabando migrando por vários profissionais. Outro  grande problema é o médico prescrever e o paciente não seguir a prescrição.

Mas porque isso acontece?  A causa é multifatorial, mas podemos destacar algumas coisas:

as pessoas são muito diferentes considerando-se sexo, idade, religião, valores, profissão, estado civil, etc

os pacientes estão muito melhor (ou pior) informados dado o conteúdo disponível na internet e redes sociais

as aspirações das pessoas quando vão ao médico com o mesmo problemas são muito diversas. Elas já têm uma ideia de como gostariam de se tratar.

Desta maneira, a mesma conduta proposta pelo médico pode ser entendida de maneiras diversas. Há pessoas, por exemplo, que não gostam de usar medicação. Estas pessoas, se medicadas, provavelmente não vão aderir ao tratamento. Outras não gostam de fisioterapia ou exercício físico e não se importam em usar medicação. Muitas não têm como comprar a medicação ou ir até o local da fisioterapia. No caso de cirurgia, muitas não têm quem cuide delas ou têm dependentes e não podem se afastar de seus trabalhos.

Para saber de tudo isso, o médico precisa fazer um movimento na direção do doente. Precisa esquecer o que acha o melhor e entrar na vida e na cabeça do paciente, para entender suas demandas: falar sobre sua casa, seus hábitos, se tem filhos, o esporte que gosta, os hobbies, valores, crenças, etc. Ouve-se muito dos doentes: “puxa, consultei um médico muito bom, a consulta levou uma hora”.  Mais do que a capacidade técnica ou o tempo dispendido, a mensagem dos pacientes parece ser a de que gostariam de ser mais ouvidos.

Se o médico sugerir a um boleiro que pare de jogar, isso acaba com o círculo de amizades dele; não se trata somente de um esporte, mas de uma atividade social. O mesmo se aplica pedindo a uma mãe italiana que pare se servir massa à mesa. Sua cultura tem a mesa como atividade social, seus laços afetivos foram feitos à mesa, seus filhos são recebidos com a mesa…

Não digo que o médico não deva expor suas verdades, mas que um paciente orientado que não segue a prescrição é igual a um fracasso de tratamento, mesmo que bem indicado. É preciso uma buscar uma verdade compartilhada, um pacto que leve em consideração a posição do médico e a capacidade do paciente de ser tratado dentro daquela proposta e isto se consegue somente com uma visão de integralidade no tratamento.

Alexandre Pagotto Pacheco

CRM: 87053  RQE: 47304

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